Cinco para ouvir: discursos de ex-reclusos/as sobre a Prisão

Patrícia Joana Ribeiro Martins

Resumo


Os cenários da reclusão são campos de análise complexos onde se cruzam saberes de ordem psicológica, antropológica, sociológica, jurídicos e políticos. Face aos estudos nos informam sobre os problemas da reinserção e ressocialização das pessoas alvo da pena privativa da liberdade, são objetivos desta investigação compreender as experiências de reclusão, analisar os efeitos simbólicos decorrentes
dessas experiências e auscultar as representações que os/as ex-reclusos/as possuem acerca da finalidade da pena de prisão no contexto português. Definimos como método de análise uma abordagem híbrida da análise temática, inscrevendo a interpretação dos dados num enquadramento epistemológico das teorias
críticas da criminologia e da psicologia social. Os resultados sugerem que o fenómeno de prisionização reforça a interiorização da realidade social e cultural que a prisão oferece nomeadamente ao nível dos estereótipos sobre o lugar do criminoso na sociedade.


Palavras-chave


Prisão – criminologia crítica – prisionização – discursos

Texto completo:

PDF

Referências


AGRA, C. Entre Droga e Crime: atores, espaços, trajetórias. Viseu: Casa das Letras, 2008.

BONTA, J.; GENDREAU, P. Reexamining the cruel and unusual punishment of prison life. Law and Human Behavior, v.14, n.4, p.347-371, Agosto 1990. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/1394298?origin=JSTORpdf&seq=1#page_scan_tab_contents

BOZZA, F. S. Finalidades e fundamentos do direito de punir: do discurso jurídico ao criminológico. 2005. 155f. Dissertação (Mestrado de Direito) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. Disponível em: http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/handle/1884/2918

BRAUN, V.; CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, Bristol, v.3, n.2, pp.77-101, 2006. Disponível em: http://eprints.uwe.ac.uk/11735/2/thematic_analysis_revised.

BUTLER, M. What are you looking at? Prisoner confrontations and the search for respect. British Journal Criminology, Oxford, v.48, pp.856-873, 2008. Disponível em: http://bjc.oxfordjournals.org/content/48/6/856.abstract

CREWE, B. Prison drug dealing and the ethnographic lens. The Howard Journal, v.45, n.4, pp.347-368, 2006. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1468-2311.2006.00428.x/abstract

Cunha, M. I. A Prisão segundo o género. In: Seminário Nacional Educar o Outro: as questões de género, dos direitos humanos e da educação nas prisões portuguesas. Coimbra: Publicações Humanas, 2007. p.81-89.

CUNHA, M. I. Prisão e Sociedade: modalidades de uma conexão. In:______ (Ed.). Aqui e além da prisão: cruzamentos e perspectivas. Lisboa: 90º Editora, 2008, pp.7-32.

DEKESEREDY, W. S. Contemporary critical criminology. Oxon: Routledge, 2011.

DORES, P. A. A Modernização das Prisões. In:______ (Ed.) Prisões na Europa: um debate que apenas começa. Oeiras: Celta Editora, 2003, pp.77-90.

DORES, P. A. Espírito marginal. Lisboa: Argusnauta, 2010.

FERNANDES, L.; SILVA, M. R. O que Droga fez à Prisão: um percurso a partir das terapias de substituição opiácea. Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência, 2009.

FISCHER, G.N. Os conceitos fundamentais da psicologia social. Lisboa: Instituto Piaget, 2002.

FONTANELLA, B.; RICAS, J.; TURATO, E. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde. Cadernos Saúde Pública, v. 24, n.1, p.17-27, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v24n1/02.pdf

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011.

GONÇALVES, R. A.. Delinquência, crime e adaptação à prisão. 3. Ed.. Coimbra: Quarteto, 2008.

GUERRA, I. C. Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo: sentidos e formas de uso.Cascais: Principia, 2010.

HANEY, C. The psychological impact of incarceration: implications for post-prison adjustment. In: FROM PRISON TO HOME CONFERENCE, The Urban Institute, U.S. Department of Health and Human Services. Estados Unidos da América, Janeiro de 2010.

Disponível em: http://aspe.hhs.gov/basic-report/psychological-impact-incarceration

HANEY, C. Prison effects of in the age of mass incarceration. The Prison Journal, v.20, n.10, p.1-24, julho 2012. Disponível em: http://tpj.sagepub.com/content/early/2012/07/02/0032885512448604

LOUÇÃ, F. ; LOPES, J. L.; COSTA, J. Os Burgueses. Lisboa: Bertrand Editora, 2014.

LEITE, A. Execução da pena privativa de liberdade e ressocialização em Portugal: linhas de um esboço. Revista de Criminologia e Ciências Penitenciárias, v.1, n.1, p.1-34, 2011.

Disponível em: http://sigarra.up.pt/fdup/en/publs_pesquisa.FormView?P_ID=12556

MANITA, C. Personalidade criminal e perigosidade: da « periogosidade» do sujeito criminoso ao (s) perigo (s) de se tornar objecto duma « personalidade criminal». Revista do Ministério Público, Lisboa, n.69, p.55-80, 1997. Disponível em: https://sigarra.up.pt/fpceup/pt/publs_pesquisa.FormView?P_ID=85105

MOREIRA, S. Vidas encarceradas: estudo sociológico de uma prisão masculina. In: Seminário Nacional Educar o Outro: as questões de género, dos direitos humanos e da educação nas prisões portuguesas.Coimbra: Publicações Humanas, 2007. p.43-53

MOREIRA, N. C. Sofrimento, desespero e comportamentos suicidários na prisão. Coimbra: Quarteto, 2008.

NUNES, L. Droga – Crime: (des) construções. Porto: Universidade Fernando Pessoa, 2011.

PORTUGAL. Código de execução das penas e medidas privativas da liberdade. 2ºEd. Coimbra: Almedina, 2010.

PORTUGAL. Código Penal. 22ºEd. Coimbra: Almedina, 2015.

PORTUGAL, J.; Mendes, A. C. Sistema penitenciário. In: Relatórios Sociais: imigração, direitos das mulheres, infância e juventude, proteção da saúde, sistema penitenciário. Lisboa: Provedoria de Justiça – Divisão de Documentação, 2008. p.345-464

PORTUGAL Relatório anual de segurança interna 2014. Gabinete do Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna. Disponível em: http://www.portugal.gov.pt/media/1391220/RASI%202014.pdf

Resende, C. Normalização: um conceito-chave na filigrana das dinâmicas prisionais. In: CUNHA, M.I. (Ed.). Aqui e além da prisão: cruzamentos e perspectivas. Lisboa: 90º Editora,

p.79-105.

RODRIGUES, A. M. Novo olhar sobre a questão penitenciária: estatuto jurídico do recluso e socialização, jurisdicionalização, consensualismo e prisão. Coimbra: Coimbra Editora, 2002.

Rodrigues, A. M. Novo Olho sobre a questão penitenciária. In:

Seminário Nacional Educar o Outro: as questões de género, dos direitos humanos e da educação nas prisões portuguesas.

Coimbra: Publicações Humanas, 2007. P. 117-125.

RUBIN, A. Resistance or friction: Understanding the significance of prisoners’ secondary adjustments. Theoretical Criminology, v.19, n.1, p. 23-42, julho 2015. Disponível em: http://tcr.sagepub.com/content/early/2014/07/24/1362480614543320.abstract

SANTOS, BOAVENTURA DE. A Reinserção social dos reclusos: um contributo para o debate sobre a reforma do sistema prisional. Coimbra: Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, Centro de Estudos Sociais, 2003.

SCHLOSSER, J. A. Bordieu and Foucault: a conceptual integration toward an empirical sociology of prisons. Critical Criminology, v.21, n.1, p.31-46, março 2013. Disponível em: http://link.springer.com/article/10.1007/s10612-012-9164-1STUBBS, J. Critical criminological research. In: ANTHONY, T.; CUNNEEN, C. (Ed.). The critical criminology companion. Sydney: Hawkins Press, 2008.p.6-17

TELLA, M. J. F.; TELLA, F. F. Punishment and culture: a right to punish? Holanda: Martinus Nijhoff Publishers, 2006.

TRACY, S. J. Qualitative research: collecting evidence, crafting analysis, communicating impact. India: Wiley- Blackwell, 2013.

TORRES, A., MACIEL, D., SOUSA, I. & CRUZ, R. Drogas e Prisões: Portugal 2001-2007. Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência, 2009.

TURATO, E. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Rev. Saúde Pública, Campinas, n.39, v.3, p.507-514, 2005.

Vala, J.; Marinho, C. Percepções de justiça social, confiança e avaliação do sistema político. In:VILAVERDE CABRAL, M.;VALA, J.; FREIRE, A. (Orgs.), Desigualdades sociais e percepções de justiça. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2003. P. 151-219.

VIEIRA, H. Intervenções em meio prisional: abordagem exploratória. Temas Penitenciários, série II, I, p.45-54, 1998.

YOUNG, J. Critical criminology in the twenty-first century: critique, irony and the always unfinished. In: CARRINGTON, K.; HOGG, R. (Eds.). Critical Criminology: issues, debates, challenges. Devon: Willan Publishing, 2002.p.251-274.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.