Chamada para artigos - Dossiês temáticos

Dados e atualidades da pesquisa em prisão no Brasil

Coordenação: Rafael Godoi e Fábio Mallart

Nas últimas décadas, o aumento exponencial da população carcerária e das taxas de encarceramento em diferentes países vem impondo desafios ao campo dos estudos prisionais. O declínio do ideal de reabilitação em tempos de governamentalidade neoliberal, as políticas de “guerra ao crime” e de “guerra às drogas”, o surgimento, a expansão e a consolidação de facções prisionais que emergem nas prisões e que, posteriormente, transbordam para o tecido social urbano, a tendência de expansão interiorizada dos parques penitenciários – de maneira que as prisões passam a ser preferencialmente alocadas em áreas distantes dos grandes centros –, a expansão das tecnologias de controle em meio aberto, entre tantas outras transformações que atravessam o cenário contemporâneo, são questões que exigem a ampliação do debate e o aprimoramento das pesquisas.

Sob essas circunstâncias, tanto em escala local quanto global, torna-se cada vez mais necessário prospectar as relações, conexões e ressonâncias que se estabelece entre o cárcere e outros territórios. Neste dossiê, pretendemos aglutinar trabalhos que tanto explorem empiricamente, quanto reavaliem teoricamente, as relações cada vez mais intrincadas que se estabelecem entre o “dentro” e o “fora” dos muros institucionais.

Nesse esforço, incentivamos a colaborar jovens pesquisadores que se debrucem sobre as dinâmicas de criminalização, punição e controle nos mais variados cenários e contextos. Interessa-nos os estudos que tematizem (i) as atuais e variáveis estratégias de gestão dos diversos espaços carcerários – seguros, castigos, pavilhões, regimes de observação, enfermarias, etc; (ii) as dinâmicas de incriminação e controle em territórios periféricos onde se recruta boa parte da clientela prisional; (iii) os conflitos e impasses vigentes nos territórios interioranos onde sua expansão se realiza; (iv) a experiência social dos grupos mais afetados pela mecânica de funcionamento da máquina carcerária – como mulheres, jovens, pobres, negr@s e moradores de áreas periféricas; (v) os aspectos jurídicos e políticos que concorrem para a efetuação de circunstâncias específicas de encarceramento e (vi) a translocalidade característica das facções prisionais e dos órgãos do sistema de justiça e segurança.